Woody Allen não faz questão alguma de esconder que, por trás de seus filmes, está Allan Stewart Königsberg, um senhor de 74 anos, para o qual o cinema não tem mais o furor de uma amante, mas a
constância de uma esposa.
Não é à toa que o título original de Tudo Pode Dar Certo é Whatever Works, algo como “tanto faz”. Woody Allen já passou da fase de se emocionar ou elaborar demais. O que transparece em seu 45º filme como diretor é que ele apenas quer continuar filmando para passar o tempo e curtir sua neurose sem que ninguém o atrapalhe.
Por isso, é muito curioso ver o comediante e produtor Larry David no papel do ex-físico quase nomeado ao prêmio Nobel Boris Yellnikoff. O personagem tem muitos tiques que são a cara de outros papeis que o diretor/ator já interpretou. Boris é um pára-raios das neuras e manias de todos os nova-iorquinos.
Tudo Pode Dar Certo é um filme sobre um personagem tão despreocupado com a vida que o acaso e o inesperado caem como uma luva para a história, não como desculpas de roteiro. Ou seja, ninguém vai reclamar que, no lixo de seu apartamento, apareça, repentinamente, uma linda garota chamada Melody St. Ann Celestine (Evan Rachel Woody). Bobinha, é verdade, mas, quem liga? Tanto faz.
Afinal, a vida é um teatro e nós, os vivos, somos personagens de nós mesmos. Tanto que Woody Allen quebra a quarta parede e conversa a todo tempo conosco, os espectadores. Ele vive a ação e sai dela para comentá-la, num sarcamo que lembra The George Burns and Gracie Allen Show, programa de TV dos anos 50 que o adolescente Allan Stewart deve ter assistido.
Se um homem conservador descobriu que era gay depois dos 50? Tanto faz! E a ex-mãe de família que vive uma relação a três? Tanto faz! Tudo Pode Dar Certo diz que a vida é mais simples do que parece – ou que não vale a pena ficar abalado pelos solavancos que aparecem. Pode ser, mas é bem mais fácil afirmar isso quando você acha os solavancos olhando para trás, não mirando o futuro. Nota 5,5
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